Perguntou-lhe Jesus: Que queres que Eu te faça? Respondeu o cego: Mestre, que eu torne a ver! Marcos 10:51

Teria Jesus curado um cego, conforme diz Marcos? Ou dois, segundo o relato de Mateus? Teria feito o milagre ao sair de Jericó, segundo Mateus e Marcos, ou ao aproximar-Se da cidade, conforme Lucas? Contradizem-se esses evangelistas? Certamente não! No primeiro caso, muitos eruditos creem ter havido dois cegos; mas, provavelmente, Bartimeu fosse mais conhecido e chamasse mais atenção, razão pela qual Marcos omitiu o nome do outro. Quanto à segunda questão, entre várias explicações, o Comentário Bíblico Adventista (v. 5, p. 700) apresenta como talvez mais aceitável a de que Jesus passava por Jericó quando viu Zaqueu. Foi para a casa dele e, ao entrar de volta à cidade, viu os dois cegos. De todo modo, importa o fato de que o milagre foi realizado. Ter fé nisso é suficiente para aceitar a harmonia das Escrituras.

Em seu mundo de escuridão, Bartimeu, filho de Timeu, vivia estigmatizado pela pobreza e pelo preconceito. Seguramente, cresceu ouvindo profecias que apontavam a vinda do Messias. Tomou conhecimento do ministério de Cristo, dos milagres efetuados por Ele e de Sua misericórdia em favor dos marginalizados pela religião. Finalmente, viu-se frente a frente com a oportunidade que nada no mundo o faria desperdiçar. “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Mc 10:47, NVI), clamou com toda a força do ser.

A resposta da multidão foi a tentativa de detê-lo em seu propósito. A de Jesus foi o acolhimento cheio de graça. A pergunta que se seguiu foi, no mínimo, curiosa. “O que você quer que Eu lhe faça?” O Mestre desejava ouvir do suplicante o reconhecimento da necessidade e a expressão de sua fé. Por sua vez, os espectadores deviam ter bem claro o que testemunhariam.

Em se tratando da cura da cegueira espiritual, porém, há algo mais na pergunta. Primeiramente, o exercício do livre-arbítrio. Por mais empenhado que esteja em nos tirar das trevas, a decisão final de aceitar ou não a graça transformadora é nossa. Além disso, precisamos estar seguros de que queremos vivenciar o incômodo radicalismo de uma mudança que nos tira da escuridão para o foco de um holofote que nos faz ver como de fato somos: orgulhosos, arrogantes e preconceituosos.

Como Bartimeu, precisamos querer ter os olhos abertos e ver nossa real condição. Então o toque da graça pode nos curar da cegueira e nos redirecionar para o brilho de uma vida espiritualmente digna, cheia de sentido.

Zinaldo A. Santos, De Coração a Coração, MM 2020, CPB

SEM COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA