Nascimento ou morte?O bom nome é melhor do que um perfume finíssimo, e o dia da morte é melhor do que o dia do nascimento. Eclesiastes 7:1

No “espaço da família”, na maternidade, reúnem-se alguns vovôs e vovós, titios e titias, um ou outro priminho ou irmãozinho e alguns amigos. Laptops e celulares estão a postos, pois a instituição disponibiliza a transmissão em tempo real do momento glorioso: o instante em que o bebê chorará pela primeira vez e viverá o ritual da passagem das mãos do médico para o colo da mãe, do pai e da enfermeira. Nem sempre a transmissão é perfeita, pois a tecnologia costuma pregar peças. Às vezes, quando alguns percebem, já aconteceu tudo, e nada puderam documentar. De todo modo, a vibração e a alegria são intensas e incontidas.

Em uma das ocasiões em que vivi essa experiência, pensei: “O que aconteceria caso Salomão aparecesse e falasse com seu tom sapiencial, enfatizando a última parte do texto de hoje?” Alguns desavisados não o entenderiam, embora nada haja de contraditório nem pessimista em suas palavras. Salomão não condena que familiares comemorem a vinda dos “Joãozinhos”, “Luísas”, “Lívias”, “Ana Júlias”, “Miguéis”, “Isabelas”, “Enzos”, “Benjamins”, “Samuéis” e tantos outros. O que o sábio faz é chamar atenção para o modelo de vida que eles e nós devemos viver.

Ao nascermos, não temos ideia dos erros e acertos, desafios e conquistas que experimentaremos na vida. Contudo, ao trilharmos o caminho da maturidade, eles aparecerão, e teremos que fazer escolhas, tomar decisões cuja influência perdurará depois que atravessarmos o oceano da existência e chegarmos à praia do descanso.

Muitos passam pela vida e deixam um rastro luminoso de influência positiva. A respeito desses, o apóstolo João recebeu a ordem para registrar: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham” (Ap 14:13). Feitos comemorados; exemplo a ser imitado.

No entanto, há aqueles que tendo sido normalmente celebrados no nascimento, passada a natural comoção do seu desaparecimento, as lembranças de uma vida pontilhada de más escolhas retornam ao lugar em que sempre estiveram. Provavelmente, pessoas discursarão em nosso funeral, porém o mais eloquente discurso será feito por nós mesmos, paradoxalmente, no silêncio de nosso sono mortal. O tema desse discurso será a lembrança que as pessoas alimentam na mente delas sobre o que revelamos em nosso modo de viver.

Zinaldo A. Santos, De Coração a Coração, MM 2020, CPB

SEM COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA