O QUE MOISÉS VIU?

Após ter dado a última bênção ao povo (Dt 33:27-29), Moisés saiu da congregação, e em silêncio e sozinho subiu o “monte Nebo, ao topo do Pisga” (Dt 34:1). No solitário pico do monte, Moisés ficou em pé e contemplou com visão clara a paisagem diante de si. A oeste viu as águas azuis do Mar Mediterrâneo. Ao norte, o Monte Hermom se erguia em direção ao céu. Ao sul ficava o deserto, onde os israelitas tinham vagueado por tanto tempo.

Relembrou toda a sua jornada após deixar as honras da corte no Egito. Viu que de todos os adultos do vasto exército que deixou o Egito, apenas dois foram achados dignos de entrar na Terra Prometida. Sua vida de provação e sacrifício parecia ter sido quase em vão.

Ao recordar sua experiência, uma ação errada manchava o registro. A ele foi garantido que o arrependimento e a fé no Sacrifício prometido eram tudo o que Deus exigia, e mais uma vez Moisés confessou seu pecado e suplicou o perdão em nome de Jesus.

Ali Moisés teve uma vista panorâmica da Terra Prometida clara, distinta e bela para a sua visão deslumbrada. Naquele cenário, Moisés contemplou não como se encontrava naquele momento, mas como se tornaria com a bênção de Deus. Viu uma terra como a que ele, inspirado pelo Espírito de Deus, tinha descrito a Israel.

Viu o povo escolhido em Canaã; cada uma das tribos em seu respectivo território. Teve uma visão de sua história – a longa e triste história de sua apostasia e punição. Viu-os espalhados entre as nações, a glória deixar Israel, sua bela cidade em ruínas e o povo levado cativo para terras estrangeiras.

Viu-os de volta à terra de sua herança, e por fim trazidos sob o domínio de Roma. Viu o primeiro advento de nosso Salvador. Viu Jesus como um bebê em Belém. Ouviu as vozes do coro angelical entoar o alegre cântico de louvor a Deus. Viu a estrela a guiar os homens sábios do Oriente até Jesus, e uma grande luz lhe inundou a mente ao recordar as palavras proféticas: “Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel” (Nm 24:17).

Viu Cristo ser rejeitado por uma nação orgulhosa e incrédula. Viu Jesus no Monte das Oliveiras Se despedindo com lágrimas nos olhos da cidade que Ele amava. Viu a rejeição final por parte daquele povo por quem tinha trabalhado, orado e se sacrificado, por quem esteve disposto a ter o próprio nome riscado do livro da vida, ao ouvir as terríveis palavras: “Eis que a casa de vocês ficará deserta” (Mt.23:38), seu coração ficou angustiado.

Viu a agonia do Salvador no jardim, a traição, a zombaria e açoites, e a crucifixão. Viu que assim como ele mesmo tinha levantado a serpente de bronze no deserto, o Filho de Deus deveria ser levantado, para “que todo o que nEle crer tenha a vida eterna” (Jo 3:15).

Ouviu o grito de agonia de Cristo: “Meu Deus! Meu Deus! por que Me abandonaste?” (Mc 15:34). Viu-O deitado no túmulo novo de José. Depois viu Jesus sair como vencedor e subir ao Céu, escoltado por anjos em adoração e liderando uma multidão de cativos resgatados da sepultura.

Viu os discípulos de Jesus ao saírem para levar o Seu evangelho ao mundo. Viu a maneira que Satanás levaria os judeus a rejeitarem a Cristo enquanto professavam honra a lei de Seu Pai. Viu o mundo sob um engano semelhante, declarando aceitar a Cristo enquanto rejeita a lei de Deus. Então ouviu dos professos ensinadores cristãos o protesto: “Fora com a lei!”

Viu o sábado ser pisado e ser substituído por outro dia de adoração. Moisés se encheu de espanto e horror. Como podiam aqueles que confiavam em Cristo colocar de lado a lei que é o fundamento de Seu governo no Céu e na Terra? Moisés viu a lei de Deus ainda honrada e exaltada por uns poucos fiéis. Viu a ultima luta dos poderes terrestres para destruir aqueles que guardam a lei de Deus.

Viu a Terra livre da maldição, mais linda do que a boa Terra da Promessa que havia pouco lhe tinha sido apresentada. Sua visão volta à realidade e seus olhos repousam sobre a terra de Canaã ao longe. Então, como um guerreiro cansado, ele se deita para descansar. Moisés, o servo do Senhor, morreu ali, em Moabe, como o Senhor dissera. Ele o sepultou em Moabe, no vale que fica diante de Bete-Peor, mas até hoje ninguém sabe onde está localizado seu túmulo” (Dt 34:5-6).

Ele não deveria ficar por muito tempo no túmulo. O próprio Cristo, com os anjos que sepultaram Moisés, desceu do Céu para chamar o santo que dormia. Moisés saiu do túmulo glorificado, e subiu com seu Libertador à Cidade de Deus. Deus excluiu Moisés de Canaã para ensinar uma lição que jamais devemos esquecer – que o Senhor exige obediência estrita e que todos devem cuidar para não tomar para si a glória que é devida a seu Criador. EGWhite, Os Escolhidos, p.289-293.