Quem dera eu tivesse asas como a pomba; voaria até encontrar repouso! Salmo 55:6, NVI

Alguma companhia aérea estabeleceu uma rota que passa pelos céus de Tatuí, cidade em que moro. De vez em quando, à noite, estou lendo ou refletindo e, de repente, ouço o barulho nostálgico de um grande avião voando para seu destino desconhecido. Não sei se o avião é azul, vermelho, amarelo ou prateado, mas fico imaginando para onde ele está indo.

Às vezes, a imaginação me leva para outros tempos e lugares, quando, na minha infância, num município perdido de Minas Gerais, outros aviões eventualmente cruzavam nossos ares. Eu, que nunca tinha viajado de avião, ficava pensando como seria voar e ir para outras terras maravilhosas.

De algum modo, o som distante dos grandes aviões me fazia e ainda faz sonhar com lugares encantados, longe dos problemas, oásis de paz e tranquilidade, algum Shangri-La misterioso, como no filme Horizonte Perdido, em que um avião cai no Himalaia e os sobreviventes encontram uma cidade utópica, paraíso de eterna juventude e completa felicidade. Não sou escapista, mas, quando Campestre ou Tatuí limitam muito meus horizontes, ou cansam meus neurônios, não custa sonhar e imaginar…

No verso de hoje, o poeta aflito também deseja voar. Não existiam aviões; por isso, ele sonhava em ter asas como as da pomba. Se pudesse voar, para onde ele iria? Para um lugar de paz, distante da confusão e da violência. “Sim, eu fugiria para bem longe, e no deserto eu teria o meu abrigo”, diz ele. “Eu me apressaria em achar refúgio longe do vendaval e da tempestade” (Sl 55:7, 8, NVI). Angustiado, amedrontado, decepcionado, desiludido com falsos amigos, ele desejava um lugar solitário e seguro.

Será que o voo para outro lugar significa a fuga dos problemas? Quando faço alguma viagem internacional, gosto de olhar o mapa que mostra a rota do avião. Nesse mapa, as cidades viram pontos, e até o oceano parece pequeno. O mapa indica que estou indo para outra parte do mundo. Porém, ao chegar ao destino, por mais agradável que ele seja, a realidade é essencialmente a mesma, embora a distância e o novo ambiente permitam uma perspectiva diferente das coisas.

Apesar disso, o barulho do avião continua servindo de metáfora para meus sonhos. É um lembrete de que existe a possibilidade de ir para outro lugar. É a mensagem de que existe uma terra em que a paz é real, a violência não existe, a beleza deslumbra, a vida não tem fim. Ao ouvir agora o som distante de um avião, sinto em meu coração que um destino paradisíaco existe. O nome desse lugar não é Shangri-La. Mas sei que ele é real. Algum dia, voarei para lá.

Marcos De Benedicto, 11/7/2016, MM 2021, CPB

SEM COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA