A EXEMPLO DE ENOQUE, PRECISAMOS TER UMA JORNADA DIÁRIA DE CONSAGRAÇÃO
Para muitos leitores da Bíblia, as genealogias são parênteses desnecessários na narrativa sagrada. Por isso, quando chegam nelas, simplesmente ignoram seu conteúdo e seguem para a próxima cena da história relatada. A primeira genealogia encontra-se em Gênesis 5, e as informações apresentadas seguem um padrão definido: o nome do patriarca; a idade dele quando teve seu primogênito; a quantidade de anos vividos depois do primeiro filho; a afirmação de que ele teve filhos e filhas e sua idade ao morrer.
A sequência, que repete seis vezes a triste expressão “e morreu”, sofre uma ruptura, apresentando aquilo que foi chamado de “uma fulgurante estrela solitária acima do registro terrestre” (Derek Kidner, Gênesis [Vida Nova, 2006], p. 75). Enoque, o sétimo depois de Adão, “andou com Deus e não foi mais visto, porque Deus o levou para junto de Si” (v. 24). Assim as Escrituras apresentam a sucinta biografia do primeiro ser humano a herdar o Céu: uma pessoa que caminhou com o Senhor pela fé a ponto de “não passar pela morte” (Hb 11:5). Ao longo dos séculos, homens e mulheres tiveram experiências profundas com Deus, mas isso não resultou em uma entrada antecipada na glória. O que, portanto, tornava o relacionamento de Enoque com o Salvador algo distinto?
Ellen White dedicou algumas páginas para descrever detalhes da vida desse nobre patriarca. Enoque sempre havia sido fiel ao Senhor, mas teve uma visão mais profunda a respeito do amor divino após se tornar pai. Isso fez com que sua experiência de oração e meditação nas revelações divinas se tornasse mais íntima e assumisse um novo patamar. Longe da ideia mística ou legalista que alguns nutrem de espiritualidade, “o ato de Enoque andar com Deus não foi em êxtase de sentidos ou em visão, mas em todos os deveres da vida diária. […] Na família e em suas relações com os semelhantes, como esposo e pai, como amigo e cidadão, ele foi um servo do Senhor, constante e inabalável” (Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 59).
Assim, ao mesmo tempo em que aprofundava sua caminhada com Deus, trabalhava “para beneficiar as pessoas pela instrução e pelo exemplo” (p. 60) e dedicava-se à pregação da mensagem de juízo e salvação que lhe havia sido revelada (Jd 14, 15). Toda sua consagração e atividade não o levaram a uma atitude de exclusivismo ou superioridade. Pelo contrário, “quanto mais íntima era sua ligação com Deus, mais profunda era a percepção da própria fraqueza e imperfeição” (p. 59).