No mês em que a campanha Quebrando o Silêncio chama atenção para o problema do abuso sexual infantil, conversamos com a psicóloga Leiliane Rocha, criadora de um programa que forma profissionais para atuar na educação sexual, emocional e prevenção ao abuso sexual. A pesquisadora pernambucana oferece apoio a milhares de famílias por meio de palestras, cursos e vídeos publicados em seus canais no Instagram e no YouTube (@leilianerochapsicologa).

Quais são os lugares em que mais ocorrem casos de violência sexual infantil?

As pesquisas apontam que mais de 70% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorrem na casa da vítima. Porém, não podemos nos esquecer de que o abusador pode estar em qualquer lugar: escolas, igrejas, casas de familiares e amigos, entre outros.

Como identificar os sinais de que uma criança está sendo vítima de abuso?

Sempre oriento os pais e profissionais sobre a importância de estarem atentos a mudanças repentinas de comportamento e conhecerem bem os possíveis sinais da violência sexual. Esses sinais incluem fissuras e vermelhidão nas genitálias, dores no baixo ventre, hematomas no corpo, dificuldades motoras, medo e choro constantes sem motivo aparente, pesadelos, masturbação compulsiva, comportamento sexualizado, agressividade, rejeição à companhia de alguém com quem antes se relacionava sem queixas, entre outros. Porém, é importante deixar claro que esses sinais não são exclusivos do abuso. Por isso, as causas devem ser investigadas.

É possível estabelecer um perfil dos abusadores?

Na maioria dos casos, o abusador é alguém acima de qualquer suspeita. No entanto, alguns comportamentos servem de alerta, como a realização de brincadeiras que favorecem o isolamento e o contato físico (brincar de “cabaninha” ou fazer cócegas, por exemplo), oferecer-se insistentemente para trocar ou dar banho, tecer comentários sobre partes íntimas, apresentar predileção exagerada por determinada criança ou adolescente e preferir estar mais com as crianças do que com os adultos.

O que fazer ao descobrir que os filhos foram abusados sexualmente?

Jamais diga: “Você tem certeza de que isso aconteceu? Será que não foi só uma brincadeira?” ou “Por que você deixou? Por que não correu? Por que não me contou antes?” Perguntas como essas podem levar a vítima a se sentir culpada pelo abuso sofrido. Além disso, deve-se realizar a denúncia no Disque 100, Conselho Tutelar e na delegacia, bem como buscar ajuda psicológica para a vítima. Em muitos casos, os pais também precisam de psicoterapia para saber lidar com a situação e ter condições de acolher e amparar o filho.

A educação sexual desde cedo é uma forma de proteção. Como os pais podem abordar esse tema?

Como todo processo educacional, a educação sexual deve ser cotidiana, intencional e guiada por métodos adequados a cada idade. Os pais podem aproveitar situações como o banho e a troca de roupa para conversar com a criança sobre proteção das partes íntimas, tipos de toques e limites. Ler livros sobre autoproteção com os filhos e aplicar dinâmicas e atividades específicas de educação sexual e prevenção ao abuso também é muito importante.

Como superar os traumas deixados pelo abuso sexual infantil?

Buscar ajuda psicológica é essencial, pois o abuso pode afetar a saúde mental, física e os relacionamentos, além de impactar o desempenho pessoal e profissional. Em alguns casos, é necessário tratamento psiquiátrico para auxiliar com sintomas graves de ansiedade e depressão. Além disso, contar com o apoio de grupos terapêuticos pode proporcionar oportunidades para compartilhar experiências com outras vítimas.

(Entrevista publicada na Revista Adventista de agosto/2024)

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