O espírito de Abraão era o espírito de Cristo. O Filho de Deus é o grande intercessor em favor do pecador. Cristo manifestou para com o pecador um amor que apenas a infinita bondade poderia conceder. Na agonia da crucifixão, esmagado com o peso dos pecados do mundo inteiro, orou por aqueles que O aviltavam e assassinavam: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23:34).

De Abraão está escrito que “foi chamado o amigo de Deus” (Tg 2:23), “pai de todos os que crêem” (Rm 4:11). O testemunho de Deus com relação a este fiel patriarca, é: “Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, preceitos, estatutos, e as Minhas leis” (Gn 26:5). “Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado” (Gn 18:19). Alta honra aquela a que Abraão foi chamado, para ser o pai do povo que foi guardião da verdade de Deus para o mundo, por meio do qual todas as nações da Terra seriam benditas no advento do Messias prometido. Ele guardaria a lei, e procederia justa e retamente. Instruiria a família na justiça a fazer o que é reto.

A casa de Abraão compreendia mais de mil pessoas. Ali, como em uma escola, recebiam a instrução que os habilitaria a representar a verdadeira fé. Assim, grande responsabilidade repousava sobre ele. Estava a educar chefes de famílias, e seus métodos de governo seriam levados para as casas a que eles presidiriam.

Nos tempos primitivos o pai era o governador e sacerdote de sua família, e exercia autoridade sobre os filhos, mesmo quando tinham suas próprias famílias. Os descendentes eram ensinados a considerá-lo como seu chefe, tanto em assuntos religiosos como seculares. Era necessário ligar os membros da casa para edificar uma barreira contra a idolatria, que se havia espalhado naquela região. Abraão procurou por todos os meios ao seu alcance guardar os que estavam com ele de se misturarem com os gentios e de testemunharem suas práticas idólatras; pois sabia que a familiaridade com os maus corromperia insensivelmente os princípios. O máximo cuidado foi exercido para excluir toda a forma de religião falsa, e impressionar o espírito com a majestade e glória do Deus vivo como o verdadeiro objeto de culto.

O próprio Deus separou Abraão de sua parentela idólatra, para que o patriarca pudesse ensinar e educar a família, afastados das influências sedutoras que os cercariam na Mesopotâmia, e assim pudesse preservar a verdadeira fé em sua pureza pelos descendentes, de geração em geração.

Os filhos e a casa de Abraão eram ensinados que estavam sob o governo do Deus do Céu. Não deveria haver opressão por parte dos pais, nem desobediência por parte dos filhos. A influência silenciosa de sua vida diária, eram uma lição constante. Havia uma fragrância em torno de sua vida, uma nobreza de caráter, que revelavam a todos que ele estava em constante ligação com o Céu. Ele não negligenciava a alma do mais humilde servo. Em sua casa não havia uma lei para o senhor e outra para o servo; um régio caminho para o rico, e outro para o pobre. Todos eram tratados com justiça e compaixão, como herdeiros com ele da graça da vida.

Quão poucos há em nossos dias que seguem este exemplo! Muitos pais revelam um sentimentalismo cego e egoísta, impropriamente chamado amor, que permite aos filhos viverem sob o controle da própria vontade. A condescendência dos pais ocasiona desordem nas famílias e na sociedade. Confirma no jovem o desejo de seguir a inclinação, em vez de se submeter aos mandamentos divinos. Assim crescem com um coração adverso a fazer a vontade de Deus, e transmitem o espírito irreligioso e insubordinado a seus filhos, e netos. Como Abraão, devem os pais ordenar as suas casas depois deles.

O ensino que se tornou tão espalhado, de que os estatutos divinos não mais vigoram para os homens, é o mesmo que a idolatria em seu efeito sobre a moral do povo. Pais religiosos, que deixam de andar em Seus estatutos, não ordenam sua casa de modo a observarem o caminho do Senhor. Não se faz da lei de Deus a regra da vida. Os filhos, ao constituírem lar, não se sentem na obrigação de ensinar a seus filhos aquilo em que eles mesmos nunca foram ensinados. E esta é a razão por que há tantas famílias sem Deus; e a depravação é tão profunda e espalhada.

Necessita-se de uma reforma neste sentido, reforma que seja profunda e extensa. Os pais necessitam de reformar-se; pastores o necessitam; necessitam de Deus em suas casas. Devem levar a Palavra de Deus à sua família, e dela fazer seu conselheiro. Devem pacientemente instruir seus filhos, amável e incansavelmente ensinar-lhes como viver de modo a agradar a Deus. Os filhos de tal casa estão preparados para enfrentar os sofismas da incredulidade. Aceitaram a Bíblia como a base de sua fé, e têm um fundamento que não pode ser varrido pela maré invasora da incredulidade.

Em muitos lares a oração é negligenciada. Os pais entendem que não possuem tempo para o culto da manhã e da noite. Não podem economizar alguns momentos para serem dispendidos em ações de graças a Deus pela luz do Sol e pela chuva, que fazem com que a vegetação floresça, e pela guarda dos santos anjos. Não têm tempo para a oração pedindo auxílio divinos, e a presença de Jesus na casa. Saem para o trabalho como o boi ou o cavalo, sem um pensamento de Deus ou do Céu. O Filho de Deus deu a própria vida para resgatá-las; eles, porém, têm pouco mais apreciação de Sua grande bondade do que a têm os animais que perecem.

Se houve um tempo em que cada casa deve ser uma casa de oração, é hoje. O pai, como o sacerdote da casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde, enquanto a esposa e filhos se unem em oração e louvor. Em uma casa tal, Jesus gostará de demorar-Se.

De todo lar cristão deve resplandecer uma santa luz. O amor deve revelar-se nas ações. Deve promanar de toda a relação doméstica, mostrando-se em uma bondade meditada, em uma cortesia gentil, abnegada. Há lares em que Deus é adorado, e em que reina o mais verdadeiro amor. Suas misericórdias e bênçãos descem sobre os suplicantes como o orvalho da manhã.

Uma casa cristã bem ordenada é um poderoso argumento em favor da realidade da religião cristã, argumento que o incrédulo não pode contradizer. Todos podem ver que há na família uma influência em atividade, a qual afeta os filhos, e que o Deus de Abraão está com eles. O Deus do Céu fala a todo o pai fiel, nas palavras dirigidas a Abraão: “Eu o escolhi para que ordene aos seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, fazendo o que é justo e direito” (Gn 18:19).

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