Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? Romanos 6:1
Philip Yancey conta a história de um homem que foi sentenciado à prisão perpétua e posto a cumprir a pena em uma ilha na costa australiana. Os dias transcorriam normais na vida prisional, quando, certo dia, o condenado agrediu mortalmente o companheiro de cela. Enviado de volta ao continente para novo julgamento, foi interrogado durante o processo sobre a razão de seu ato. Explicou ter atingido elevado grau de tédio e desespero na prisão, perdendo assim a motivação para viver.
Surpreso, o juiz perguntou ao réu por que, diante da percepção de sua própria condição, ele havia tirado a vida do outro, em vez da própria. O prisioneiro então respondeu que se cometesse suicídio, estaria eternamente perdido. Entretanto, matando outra pessoa, seria condenado à pena de morte, tendo direito a se confessar a um sacerdote pouco antes da execução, ser perdoado e morrer salvo (Maravilhosa Graça, p. 183).
Essa lógica enganosa já estava presente no pensamento e na conduta do controvertido monge russo Grigori Rasputin (1869-1916). Ele se declarou santo, tornou-se confidente da esposa do czar russo Nicolau II e difundiu a aberração de que experiências voluntariamente repetidas de pecado e arrependimento possibilitariam a salvação. Sua conduta altamente devassa se alicerçava-se numa clara distorção do ensino de Paulo sobre o aumento do pecado e transbordamento da graça divina sobre o pecador (Rm 5:20).
A toda pessoa que revele simpatia para com esse conceito, o apóstolo alertou: “Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Rm 6:1, 2). Para nossa tranquilidade, é certo que todo pecador terá que se entender com o Deus que disponibiliza abundante graça para todos. Contudo, o cristão que, imaginando-se amparado por ela, livremente escolhe pecar, apenas tripudia sobre essa dádiva divina, ofende o Doador e a desvaloriza.
A graça nos possibilita muito mais do que temos ouvido, cantado, falado e escrito sobre ela. De fato, desde nossa concepção, temos recebido mais graça do que merecemos. Tendo aberto as portas do favor de Deus em relação a nós, ela ilumina o novo caminho a ser trilhado em santificação, de mãos dadas com Jesus. É infinitamente valiosa para que seja tratada como algo sem valor.
Zinaldo A. Santos, MM 2020, CPB