Disse então o SENHOR a Satanás: “Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus, e evita o mal. Ele se mantém íntegro, apesar de você me haver instigado contra ele para arruiná-lo sem motivo”. Jó 2:3
Houve um homem na terra de Uz que foi a personificação do sofrimento. Seu nome era Jó. Integro e justo, ele “temia a Deus e evitava o mal” (Jó 1:1); porém, o mal não o evitou. Honrado e rico proprietário de terras, figura majestática, Jó vivia com seu clã numa região da Arábia. Se a sua história não estivesse na Bíblia, estaríamos ainda mais perdidos em face do mal no mundo e em nosso quintal. Gilbert Chesterton disse: “A Ilíada é grande porque a vida é uma batalha; a Odisseia é grande porque a vida é uma jornada; o livro de Jó é grande porque a vida é um enigma.” Em Jó, encontramos a resposta para uma pergunta perturbadora: se Deus é poderoso e amoroso, por que o mundo está essa bagunça e coisas ruins acontecem com pessoas boas?
A história de Jó mostra que, num universo habitado por agentes livres, o sofrimento não tem uma lógica imediata de causa e efeito. Portanto, não devemos ficar obcecados com o porquê. A história é conhecida. Um dia, com um sorriso irônico, Satanás fez um desafio a Deus: “Quer apostar que Jó age por interesse?” Assim, foi feita uma aposta cósmica: o diabo apostando contra Jó e Deus apostando a favor de Jó. E desse modo começou a saga do patriarca. Em sequência veloz e trágica, Jó perdeu o império, a família, a saúde, o apoio da esposa e a compreensão dos amigos. Grande detalhe: tudo isso sem motivo, sem razão (Jó 2:3).
Além disso, os bastidores de Jó revelam que vemos apenas uma parte do cenário. Por isso, não devemos ser apressados em nossas conclusões. A teologia popular é insuficiente para explicar a realidade total e muito menos a realidade de cada um. As explicações mais fáceis nem sempre são as corretas. Os três ciclos de discursos dos amigos de Jó falavam apenas de mesmices: aflição é castigo, punição é julgamento, o sofrimento é disciplina para testar, purificar e fortalecer. No entanto, a chave para a solução do problema do sofrimento de Jó estava além do discurso humano.
Sem deixar que as escoriações da vida destruíssem sua fé, Jó tentou defender sua integridade. No ato final do livro (Jó 38), Deus aparece para dar a resposta aos questionamentos do patriarca, mas faz ainda mais perguntas. No entanto, descobrimos que, num universo controlado por Deus, a sorte daqueles que sofrem injustamente um dia será revertida. Quando parece que todas as chances são contra nós, ainda há uma esperança. Deus vai ganhar a aposta.