Naquele dia fatídico, a atmosfera estava carregada no Monte Carmelo e um silêncio sinistro pairava sobre a assembleia. Em épocas anteriores, aquele monte elevado tinha sido exuberante e belo, mas tudo isso havia mudado. O que antes era verde agora estava seco e despido como resultado de 3,5 anos de uma seca dolorosa.

Talvez maior do que a seca física que assolou a nação tenha sido a seca espiritual que deixou o povo de Deus com a alma sedenta e destruiu sua fé. Israel foi governado pelo malvado rei Acabe e sua esposa Jezabel, talvez a pior escolha de uma companheira já feita por alguém. A noiva sidônia de Acabe ajudou a mudar sua lealdade a Deus.

As pequenas conceções religiosas de Acabe logo se transformaram em apostasia crescente. Acabe construiu para Jezabel, em Samaria, capital do reino, um templo a Baal e ergueu um poste à deusa Aserá. Os 850 profetas lideravam a adoração pagã dessas divindades, mas nem isso agradou a Jezabel. Seu primeiro ato registrado nas Escrituras é o genocídio de profetas. O culto falso e o verdadeiro não podem coexistir. Um tem que morrer para que o outro viva. Em 1 Reis 16:33, a Bíblia diz que Acabe “cometeu mais abominações para irritar o Senhor, Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que vieram antes dele”. Israel tinha a atenção total de Deus.

ENCONTRO NO MONTE

Foi nessa crise espiritual devastadora que Deus chamou o profeta Elias (Jeová é meu Deus). Elias nasceu para esse tempo. “Habitava nos dias de Acabe um homem de fé e oração cujo destemido ministério estava destinado a deter a rápida disseminação da apostasia em Israel”. EGWhite, PR, p.68.

Quando Acabe confrontou Elias, acusou o profeta de incomodar Israel. Talvez isso fosse compreensível, pois foi Elias quem declarou que não cairia uma gota de chuva, exceto por sua palavra. Três anos mais tarde, a determinação de Acabe foi quebrada. Quando Elias ordenou ao rei que o encontrasse no Monte Carmelo, junto com todos os profetas de Baal e Aserá, ele obedeceu resignadamente. O profeta estava investido de autoridade vinda de Deus. Ele estava cumprindo a missão de reconstruir o altar destruído por Israel.

No Monte Carmelo, Elias definiu os termos do “duelo”. Dois altares seriam erguidos. Os profetas de Jezabel colocariam seu sacrifício em um e Elias faria o mesmo no outro. “Então eles invocarão o nome de seu deus, e eu invocarei o nome do Senhor. E há de ser que o deus que responder com fogo, esse é o Deus verdadeiro”, concluiu Elias (1 Rs. 18:24). Todos concordaram, e, como sabemos, os profetas de Baal gritaram, cortando-se até sangrarem, mas o deus deles nunca respondeu.

Foi então que Elias chamou o povo para perto e consertou o altar quebrado do Senhor, o altar ao qual Deus enviou fogo para consumir o sacrifício. Essa demonstração do poder de Deus foi sem precedentes e inesquecível. Em um instante Deus restaurou Sua supremacia e reorganizou as prioridades espirituais de Israel.

GEMA ESCONDIDA

Nessa surpreendente narrativa bíblica, muitas vezes deixamos de perceber uma nota escondida em 1 Reis 18:36. Ela diz que foi na “hora do sacrifício da tarde” que Elias orou para que o fogo caísse do céu, para que Deus mostrasse que Ele era o Deus de Israel. As experiências de adoração da manhã e da tarde eram o alicerce espiritual da vida israelita.

Deus instituiu essa experiência de adoração pessoal/familiar para desenvolver um ritmo devocional em Seu povo. “Ofereça um cordeiro de manhã e o outro, ao crepúsculo da tarde”, orientou o Senhor (Êx. 29:39).

Em um sentido muito real, Elias não estava apenas chamando a nação de volta ao altar do culto verdadeiro; mas também ao altar do culto regular e sistemático, ao verdadeiro Deus. O altar da adoração corporativa de Israel estava quebrado, mas os altares pessoais e familiares daquela nação foram destruídos muito antes.

Será que hoje estamos enfrentando um destino semelhante em nossas igrejas em relação ao culto pessoal e familiar? Uma pesquisa mundial realizada em 2018 descobriu que apenas 34% dos lares cristãos realizam o culto regular de manhã e à noite, e somente 52% dos membros da igreja realizam seu culto pessoal (link.cpb.com.br/9c9189). Será que uma igreja com a mensagem para o tempo do fim que é centrada no culto, encontrada nas 3 mensagens angélicas de Ap. 14:6-12, pode transmitir essa advertência solene se seus membros não estiverem praticando o culto pessoal e familiar? Será que podemos proclamar aquilo que não praticamos?

“Nada é mais necessário na obra do que os resultados práticos da comunhão com Deus”. EGWhite, TPI, v.6, p.41. “Assim como os patriarcas, os que professam amar a Deus devem construir um altar ao Senhor onde quer que armem sua tenda. Se há um tempo em que cada casa deve ser uma casa de oração, esse tempo é agora! Pais e mães devem muitas vezes erguer o coração a Deus em humilde súplica por si e por seus filhos. Que o pai, o sacerdote da casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde, enquanto a esposa e os filhos se unem em oração e louvor. Em uma casa assim, Jesus gostará de ficar”. EGW, PP, p.113

NECESSIDADE MAIS URGENTE

A restauração do culto pessoal e familiar entre os cristãos é talvez a necessidade mais urgente de nosso tempo. Mas não será fácil. Hoje enfrentamos o desafio de uma tecnologia que ocupa cada vez mais nosso tempo e altera nossa mente. Nosso vício da mídia, especialmente da social, nos deixou ansiosos, irritáveis, solitários, estressados, deprimidos, sem sono e infelizes com nossa posição na vida.

Ironicamente, o culto pessoal e familiar provoca o efeito oposto. Acalma nossa mente, diminui a solidão, reduz o estresse, aumenta a paz, supre nossas necessidades emocionais e nos ensina o contentamento. Será que o altar pode ser o antídoto para nossa mente esgotada e nosso coração agitado?

Agora, mais do que nunca, Deus nos chama de volta ao Seu coração, a momentos constantes de refrigério em Sua presença. A a igreja Adventista do Sétimo Dia lançou a iniciativa “De Volta ao Altar”, um esforço importante para reconstruir os altares pessoais e familiares que estão quebrados na igreja de Deus. Esperasse que até 2027, tenhamos, pelo menos, 70% dos membros comprometidos com o culto pessoal e familiar da manhã e do fim da tarde. Se voltarmos para o altar com Deus, seremos transformados à Sua imagem e capacitados para terminar Sua obra.

Dwain N.Esmond, Revista Adventista, Setembro/2022, p.26-27

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