Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas. Mateus 6:14, 15

O escritor belga Louis Évely afirmou: “que Deus tem tanto prazer em nos perdoar, que aqueles que Lhe proporcionam essa alegria não se sentem como pestinhas repulsivos e importunos, mas como crianças queridas, compreendidas e encorajadas, agradáveis e úteis para Ele, infinitamente melhores do que se consideravam. Se não fôssemos pecadores e não precisássemos do perdão mais do que de pão, não teríamos como saber quão profundo é o amor de Deus” (Citado em Brennan Manning, O Evangelho Maltrapilho, p. 188).

O que poderíamos dizer sobre o perdão divino que fosse mais confortador? Não há ser humano que não tenha sido beneficiado por ele. Mas precisamos nos lembrar de que, tendo-o recebido, devemos compartilhá-lo com nossos semelhantes, sempre que necessário. Cristo associou o perdão que recebemos de Deus ao que oferecemos a outros: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como temos perdoado aos nossos devedores” (Mt 6:12). Em outras palavras, é como se pedíssemos: “Senhor, trata-me como tenho tratado as pessoas.” E mais: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (v. 14). Essa atitude liberta tanto o ofendido quanto o ofensor para que vivam de modo excelente.

Ray Pritchard, no livro O Poder Terapêutico do Perdão, conta um episódio marcante da vida de Martin Luther King. Desde muito cedo, ele conviveu com as humilhações resultantes da discriminação racial. Outros reveses marcaram a vida daquele homem. Seu filho, Martin Luther King Jr. abraçou a causa em favor dos direitos civis dos negros e foi assassinado por um branco em 1968. Um ano depois, outro filho morreu afogado em uma piscina. Em 1974, novo golpe: enquanto tocava piano em um culto de sua igreja, sua esposa foi morta por um jovem ativista negro, inconformado com o discurso pacifista e agregador dos King.

Em 1984, perto de morrer, aos 84 anos, o patriarca refletiu sobre a própria vida, a causa pela qual lutou e as perdas que sofreu. Ele nos deixou uma preciosa lição: “Há dois homens que eu deveria odiar. Um deles é branco, o outro é negro, e os dois estão cumprindo pena por homicídio. Não odeio nenhum dos dois. Não há tempo para isso; também não há razão. Nada pode rebaixar tanto um homem quanto ele se permitir decair a ponto de odiar alguém” (p. 140).

Zinaldo A. Santos, De Coração a Coração, MM 2020, CPB

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