A primeira impressão dos sentidos não é a verdadeira. Para julgar bem é mister comparar. – Jean Baptiste Massillon

Sabe o irmão o que quer dizer inferência? É bem possível que sim. No entanto, há muitas pessoas que jamais ouviram falar nessa palavra. Nem por isso, porém, deixam de faze inferências a todo instante.

Em 1/2/1974, estávamos num táxi, bem no centro de SP. Quando nos aproximávamos de um grande viaduto, notamos que este estava abarrotado de pessoas que olhavam em determinada direção. Logo pensamos: Houve um suicídio. Contudo, ao chegarmos mais perto, vimos que a multidão olhava para cima, e estava agitada. Então admitimos: Deve ser algum objeto estranho no céu.

Qual nada! Era o edifício Joelma em chamas! Inferência consiste em estabelecer conclusões com base nas primeiras impressões que um fato ou coisa nos propicia. Portanto, é algo muito subjetivo, muito pessoal. Tem que ver mais com as emoções do que com a certeza advinda de uma realidade concreta. É um processo indutivo na apreciação de alguma coisa. Às vezes, coincide com o fato, mas, na maioria dos casos, a realidade é bem outra.

Por que estamos tratando deste assunto? Ora, quantas vezes fazemos inferências no dia-a-dia do nosso relacionamento cristão! E isto muitas vezes com prejuízos e distorções de toda ordem! Quase sempre gerando enganos, boatos e decepções. Alguns exemplos:

A Escola Sabatina começou há 10 minutos. De repente, entra o irmão Antônio com a família, desfilando pelo corredor. Você, imediatamente, diz para si mesmo: “Que família relapsa!”

O pastor está pregando. E exatamente quando se insurge contra os caprichos da moda, uma irmã se retira do templo. Você, em seguida, admite: “Ela está protestando contra o que o pastor está dizendo.” E o pior será se o irmão espalhar essa impressão entre os membros da igreja!

Certo colportor foi acusado de ser apreciador de filmes porque, um dia, fora visto saindo de um cinema, onde, na verdade, estivera fazendo a entrega de alguns livros ao gerante.

O fenômeno da inferência é muto sutil, pois você pode ser induzido e admitir que o irmão Filisbino é criticador porque, certa vez, foi visto a discordar da atitude do irmão Anselmo; que a irmã Teresa deixou a igreja, porque não compareceu às três últimas reuniões; que a diretora das Dorcas não gosta de você, porque não lhe deu uma peça de roupa por ocasião do Natal; que a comissão de nomeações não lhe reconhece as qualidades, porque não o indicou para o ancionato; que o irmão Tácito é transgressor do sábado, porque foi visto com alguns pães antes do programa dos jovens (ele levava aqueles pães para uma família necessitada); que o presidente da Associação é rico, porque tem um carro do último tipo…

O grande perigo da inferência reside no fato de nos levar a tomar o todo pela parte, ou fazer juízos falsos. Até mesmo quando lidamos com impressões positivas, louváveis. Exemplos:

Você, talvez, ache que o irmão Joaquim é santo só porque é fiel nos dízimos; que a irmã Dilma é convertida e consagrada, porque ao orar, derrama muitas lágrimas; que o irmão Alipio é desprendido porque deu publicamente uma grande oferta; que a jovem Dina é mais santa que as demais porque não segue os caprichos da moda, etc..

Mesmo em casos como esse, a inferência é perigosa, pois não podemos julgar uma pessoa mediante fatos isolados.

Então, o que devemos fazer? Eis a resposta bíblica: “Não julgueis segundo a aparência e, sim, pela reta justiça” (João 7:24). Na verdade, toda inferência que fazemos tem certa base na tendência humana de julgar os outros. Por isso Jesus disse: “Não julgueis parra que não sejais julgados” (Mateus 7:1).

Há outras passagens bíblicas merecedoras de nossa reflexão. “Não julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão” (Romanos 14:13). “Portanto, nada julgueis antes do tempo…” (1 Cor.4:5).

Visto que não olhavam para os próprios erros com o sincero desejo de abandoná-los, os judeus fizeram muitas inferências a respeito da vida e obra de Jesus. Uma vez Cristo disse que o santuário (Seu corpo) ia ser destruído, e em 3 dias seria reedificado (João 2:19). Notemos como a inferência ocorreu: “E não acharam, apesar de se terem apresentado muitas testemunhas falsas. Mas, afinal, compareceram duas, afirmando: Este disse: Posso destruir o santuário de Deus e reedificá-lo em 3 dias”(Mateus 20:60-61).

O diabo sempre procura levar os crentes a fazerem inferências a torto e direito. Este tipo de tentação começou no Céu, entre os anjos, por ocasião da rebelião. Os anjos que forram expulsos do Céu, certamente admitiram que o governo de Deus estivesse mesmo errado, pois o principal dos anjos estava descontente. Já no Éden, Satanás, por meio da serpente, disse que Eva ficaria conhecendo o bem e o mal e seria como Deus. Foi então que a mulher inferiu que Deus estava reservando para Si o conhecimento exclusivo do bem e do mal. E caiu.

Que Deus nos livre de julgar os outros pela aparência de fatos e situações isolados. Há, pelo menos 4 razões: Não somos juízes designados pelo Céu; não vemos o que está no coração das pessoas; as inferências, uma vez espalhadas, provocam boatos arrasadores; somos imperfeitos.

“Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar nos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição mais saudável.” EGWhite, TS, v.2, p.24

A clarinada do amor – eis a solução maior para vencermos toda tentação perniciosa.

Rubens Lessa, Diagnóstico e Remédio, p.17-20

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