“Às vezes, convém muito, para que sejamos humildes, que os outros conheçam os nossos defeitos e os reprovem”. Thomas A. Kempis

Um dos mais fortes desejos do ser humano é o de ser apreciado, aceito pelos outros. É bom sabermos que as pessoas nos aceitam. Ninguém gosta de ser preterido, desprezado.

No entanto, quase sempre existe por trás dessa ânsia por aceitação, uma mola propulsora: o egoísmo. O ser humano pratica muitas coisas tão-somente por interesses pessoais. Às vezes ocorre o caso de alguém ser apreciado quando, na verdade, não merece isso. “Muitos recebem aplausos por virtudes que não possuem. O Perscrutador dos corações pesa os motivos, e muitas ações altamente louvadas por homens são por Ele registradas como partindo de egoísmo e baixa hipocrisia.” – EGWhite, OE, p.275

Desde pequenos somos inclinados ao egoísmo. Aliás já nascemos com ele. É o egoísmo que faz com que o Eu ande sempre empinadinho, arrogante. Ele é capaz dos maiores desatinos e caprichos. A História é uma sucessão de fatos construídos sobre o movediço alicerce do egoísmo.

No mundo, mais do que nunca, reina a ambição por status. Quanto sacrifício é feito para que o homem apareça! Pessoa há que só conseguem trabalhar se estiverem em posição de evidência. Este desejo, na verdade, se assenta na necessidade doentia de apreciação, que, por sua vez, se escora no egoísmo.

Respondamos com franqueza: Que motivos nos levam a trabalhar na igreja? Nem sempre o que fazemos na igreja, é realizado em favor dela.

Há na Bíblia um exemplo digno de imitação. Refere-se a um homem que não organizou igrejas, não escreveu obras nem realizou milagres. Não fazia questão de ser aceito; tampouco se preocupou com posições honrosas.

Se esse homem fosse egoísta e impregnado do desejo mórbido de apreciação, seu comportamento seria o de reclamar por estar perdendo a popularidade, mas, graças a Deus, nunca tão poucas palavras constituíram-se em tão grande sermão como estas: “Convém que Ele cresça e eu diminua.” João 3:30. Que maravilhoso espírito!

João batista não era movido pelo amor do poder, mas pelo poder do amor. Foi por isto que Jesus afirmou: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu ninguém maior do que João Batista.”

Somente o cristianismo prático pode levar uma pessoa a se alegrar no sucesso de outrem.

O pregador do deserto foi aparentemente “passado para trás”. Não no esqueçamos, porém, de que o Sol, cada dia, dá às estrelas a oportunidade de brilhar.

João Batista não queria status intelectual nem político. Seu objetivo era servir a uma Causa nobre e santa. Nãose servia da Obra, mas servia à Obra.

Não lhe interessavam os elogios que incham. Enquanto na Terra algumas vozes cessavam de dirigir-lhe encômios, no Céu os anjos lhe tributavam honrarias. João Batista atingira o ideal do Céu: a verdadeira grandeza, que aborrece o desejo mórbido de aprecição.

– Por que você – perguntou alguém a um amigo – não subiu na liderança da igreja?

– Meu irmão, lhe respondeu o humilde obreiro, só existe uma coisa na qual faço questão de ser o primeiro: eficiência no cumprimento do dever. Não me importo com o fato de ter de ocupar o último lugar em importância na igreja. Não deve alguém ocupar o último lugar?

Após estas considerações, não pensemos que devemos rejeitar todas as oportunidades de liderança na igreja, querendo dizer com isso que somos humildes de desprendidos. Não é isto.

Deus deseja que vivamos a dimensão da verdadeira grandeza. Não devemos trabalhar por cargos ou desejo de apreciação. Sim, precisamos ser aprovados, mas por Deus. Na execução da obra do Senhor, somos servos. Todos servos, sempre respeitando a hierarquia, pois isto é bom e justo. Nunca, porém, devemos trabalhar para nosso engrandecimento, nem dos outros. Tão-somente de Deus. Todavia, se alguém tiver que ser o primeiro, que seja o nosso semelhante. “Convém que ele cresça e que eu diminua.”

Podemos realizar até grandes coisas em favor da Causa de Deus. Se, entretanto, não tivermos o espírito de João Batista, seremos reprovados individualmente, no que respeita aos motivos.

Como somos tentados a esquecer-nos de que do Senhor nos vêm a força e o talento para a execução de Seu trabalho!

Conscientes desta verdade, todos os nossos motivos deveriam ser marcados pela verdadeira grandeza. O cristão genuíno não se serve de igreja; serve à Causa, pois seus motivos não são impelidos pelo egoísmo. Não se entrega aos caprichos do egocentrismo. Não fica desconsolado quando outros brilham no firmamento das realizações. À semelhança do Sol, põe-se atrás da montanha da humildade para as estrelas brilhem.

Rubens S. Lessa, Diagnóstico e Remédio, p.13-16

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