O banqueiro dos pobres, essencialmente uma autobiografia de Muhammad Yunus e do Banco Grameen, é uma mistura fascinante de argumentos
econômicos, casos pessoais e histórias inspiradoras. O que se transformou no Banco Grameen e no movimento mundial de microcrédito começou com um empréstimo de apenas 27 dólares, em 1974, feito por Yunus,
então professor de economia, para aliviar o sofrimento quando Bangladesh foi atingida por grave escassez de alimentos.

Yunus emprestou dinheiro para 42 mulheres para que elas pudessem comprar bambu para fabricar e vender banquinhos. Em pouco tempo, as mulheres pagaram os empréstimos e continuaram a sustentar a si mesmas e a suas famílias. Com esse sucesso inicial, Yunus criou uma
empresa experimental de microcrédito, em 1977.

Como não conseguiu apoio dos bancos tradicionais, decidiu criar seu próprio “banco dos pobres”, o Banco Grameen, em 1983. A ideia por trás desse banco é simples: estenda o crédito aos pobres e eles ajudarão a si mesmos. Essa ideia toca na raiz da pobreza, mirando especificamente o mais pobre dos pobres, fornecendo pequenos empréstimos (geralmente menos de 300 dólares) para aqueles que não conseguem obter crédito dos
bancos tradicionais.

No Grameen, os empréstimos são administrados para grupos de cinco pessoas, entre as quais apenas duas recebem o dinheiro adiantado.
Assim que esses dois beneficiários efetuam alguns pagamentos regulares os empréstimos são gradualmente estendidos ao resto do grupo.

Desse modo, o programa constrói um sentido de comunidade, bem como de autoconfiança individual. A maioria dos empréstimos do Banco Grameen é para mulheres e, desde seu início, o índice de pagamento da dívida tem
sido impressionante: superior a 98%. Historicamente, os pobres não têm acesso a oportunidades de desenvolvimento econômico porque o financiamento é sempre dirigido para aqueles que têm dinheiro, não para os pobres.

No entanto, Yunus defende que a única maneira de os pobres escaparem da pobreza é terem acessso a essas mesmas oportunidades por meio da concessão de crédito. Sobre a questão de serem dignos de crédito, afirma:
“Por que os pobres não podem controlar capital? Porque não herdam nem capital nem crédito, nem ninguém lhes dá acesso ao capital, porque fomos levados a crer que não se deve confiar crédito aos pobres – que eles não são
dignos de crédito. Mas são os bancos dignos das pessoas?”

O Banco Grameen é atualmente um banco de 2,5 bilhões de dólares, sediado em Bangladesh, e o seu modelo de microcrédito se espalhou por mais de cinquenta países, dos Estados Unidos à Papua Nova Guiné, da
Noruega ao Nepal. Levou também ao desenvolvimento de outros empreendimentos sociais, como Grameenphone, Grameen Check
(roupas tecidas em teares), Grameen Fisheries Foundation, Grameen Cybernet e Grameen Shakti (energia).

O livro é rico da filosofia de Yunus sobre vários assuntos, desde bancos, economia e capitalismo até educação, pobreza e negócios. Sua premissa básica é que o estado atual de bem‑estar, na verdade, tolhe a capacidade do
pobre de escapar da pobreza, na medida que pune as atividades que libertam da pobreza.

Além disso, o capitalismo só poderá permitir ao pobre escapar da pobreza se for atribuído um valor ao impacto social, isto é, se levar em conta as externalidades do comportamento social positivo.

Tópicos do livro

  • Os pobres, uma vez capacitados economicamente, são os lutadores mais decididos
  • na batalha para solucionar o problema populacional, dar fim ao analfabetismo, viver vidas mais saudáveis e melhores. Quando os formuladores de política finalmente se derem conta de que os pobres são seus parceiros, em vez de espectadores ou inimigos, progrediremos muito mais depressa do que hoje.
  • Deveríamos julgar a qualidade de vida de uma sociedade não pela maneira como os ricos dessa sociedade vivem, mas pelo modo como os integrantes do percentil mais baixo vivem a vida deles.
  • Ganância não é o único combustível da livre empresa. Metas sociais podem substituir a ganância como poderosa força motivacional. Empresas dirigidas com consciência social podem ser concorrentes formidáveis para as empresas calcadas na ganância.
  • Proponho substituirmos o acanhado princípio da maximização do lucro por outro princípio de lucro generalizado – um empreendedor que maximiza um pacote com dois itens, lucro e retorno social, com a condição de que o lucro não pode ser negativo.
  • Capacitação econômica e social, que cria oportunidades para mulheres pobres obterem suas rendas e as coloca dentro de estruturas organizacionais, terá mais impacto em restringir o crescimento populacional do que o atual sistema, que tenta amedrontar as pessoas.

Li, gostei e recomendo a leitura desse livro.

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