A oração parece uma decantada loucura. Como pode o homem comunicar-se com o próprio Deus em qualquer tempo, lugar e situação, se este é o Senhor de todo o Universo, e aquele um miserável habitante de um planeta que em tamanho é apenas uma partícula deste espaço imensurável? Mesmo não havendo seres inteligentes senão neste modesto planeta, como pode Deus ouvir as orações diárias que, pelo menos os 1,6 bilhões de cristãos lhe dirigem? Os críticos dizem que a oração é valida, não porque ela penetra “até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos” (Tiago 5:4), mas porque é psicologicamente saudável ao que ora. Apesar desta aparente irracionalidade, a oração é “a mais alta atividade da qual o espírito humano é capaz”. O homem ora porque tem necessidade interior de Deus, porque precisa dele e porque sabe que Deus é bom e todo-poderoso. Ora porque Deus o atrai irresistivelmente e porque não há outro que faça o papel de Deus.

EFEITOS

A oração produz efeitos psicológicos, espirituais e dinâmicos. Por meio da oração, você pode superar a tensão, a ansiedade, a angústia, certos tipos de depressão, o sentimento de culpa, o medo e outros estados emocionais desagradáveis. É perfeitamente possível relaxar durante a oração e depois dela.

Esta é a experiência de Ana quando derramou a sua alma perante o Senhor e pôs para fora o excesso insuportável de sua ansiedade (1 Samuel 1:9-18). O semblante desta atribulada mulher já não era triste quando ela se retirou da presença do Senhor. A oração não formal vale como medicamento contra a tensão emocional (Fil. 4:6-7). Até Jesus se valeu dela na crise do Getsêmani (Mat. 26:36-46). O salmista sabia derramar perante Deus a sua queixa, e expor diante dele a sua tribulação, como aconteceu na época em que era caçado impiedosamente por Saul (Salmo 37:5). Este são os efeitos psicológicos da oração, que não é necessário negar.

Outro grande efeito da oração é de ordem espiritual. A oração força o exercício da piedade, ajusta o homem aos padrões de fé e de comportamento. Você cresce em espírito quando ora. A oração é um instrumento nas mãos de Deus para o aperfeiçoamento de seus filhos. Jacó foi obrigado a admitir que era um suplantador, enquanto orava desesperadamente do outro lado do vau de Jaboque para se ver a salvo de Esaú. Tornou-se outro homem depois desta noite de oração: deixou de ser Jacó (suplantador) para ser Israel (Deus é forte) (Gen.32:22-33:17).

O esquema é muito simples: você ora porque precisa de Deus, mas, para ser ouvido, é necessário que você compareça de mãos limpas na presença do Senhor, iniciando a sua prece com confissão de pecado, pois “Deus não atende a pecadores” (João 9:31), mesmo que você multiplique as suas orações (Isaias 1:15).. A oração bem sucedida depende de uma estreita união com Cristo: “Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito”(João 15:7). Pedro chega a dizer que a falta de compreensão entre marido e mulher, e outros problemas conjugais provocam orações não respondidas (1 Pedro 3:7).. Até o motivo das orações precisa ser burilado do egoísmo: às vezes, nós oramos e não somos ouvidos porque o objetivo está todo errado – nós só queremos o que dará prazer a nós (Tiago 4:3). Precisa ficar bem claro que um dos elementos da santificação do homem é a prática da oração.

Todavia, não se pode negar o terceiro aspecto da oração: sem oração você não alcança certas bênçãos. Jesus deixou bem claro: “Pedi, e dar-se-vos-á… (Mateus 7:7-8)”. Tiago vai mais além e declara com sua peculiar franqueza: “Nada tendes, porque não pedis” (Tiago 4:2). Jesus estimulou a perseverança na oração, “o dever de orar sempre e nunca esmorecer” (Lucas 18:1). É preciso ficar patente aos olhos de todos os cristãos que se não se pede, também não se recebe. Teria Jesus curado a filhinha da mulher siro-fenícia se esta não tivesse insistido no pedido, não obstante a aparente má vontade do Senhor? (Marcos 7:24-30). É bom lembrar que Ana, além dos benefícios emocionais provocados pela oração, recebeu ainda a graça solicitada: “Por este menino orava eu…”(1 Samuel 1:27). A oração tem um alcance enorme: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo”(Tiago 5:16).

ELEMENTOS DA ORAÇÃO

Não é pecado pedir, nem sinal de imaturidade espiritual. É perfeitamente lícito fazer súplicas no exercício da oração, mas há outros elementos da oração que devem ser constantemente lembrado. Na adoração você exalta o caráter de Deus, a imensidão e a perfeição de sua obra, e se delicia com o próprio Deus. No agradecimento, você menciona nominalmente manifestações de graça, do amor e do poder de Deus, em sua própria vida, na família e na comunidade. Na confissão, você se abre e conta a Deus suas mazelas e fraquezas, pecados de qualquer natureza, admitindo sempre a própria culpa e recorrendo à misericórdia divina. No extravasamento, você derrama a sua alma perante o Senhor e fala de seus sustos e medos abertamente, com o propósito de descansar no Senhor. Na intercessão, você se exercita no altruísmo e ora em favor do sofrimento alheio, dos problemas alheios da das necessidades alheias. Na súplica, a oração mais frequente, você apresenta as suas necessidades pessoais ou coletiva, costumeiras ou esporádicas, que formam um leque enorme.

É preciso ser cauteloso com o que pedir em oração, para não descambar em direção ao egoísmo. Você deve mostrar preocupação não só com as necessidades próprias, mas também com o reino de Deus e com os outros. Na oração modelo, Jesus sugere esta preocupação com o reino: “Venha o teu reino…”(Mateus 6:10). Ao mesmo tempo, quando você pede bênçãos pessoais para melhor servir a Deus, este tipo de oração não revela egoísmo algum. Você precisa aprender a orar não só por saúde, cura, sucesso e felicidade, mas também por alegria, entusiasmo, capacidade, sabedoria, unção e poder do Espírito, direção, confiança, humildade, ousadia, pureza, paciência e amor. A oração é um dos instrumentos certos para você conseguir as bênçãos acima mencionadas: “Seu algum de vós necessita de sabedoria…” (Tiago 1:5). Revista Ultimato, Abril/1987

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