Senhor, quero dar-te graças de todo o coração e falar de todas as tuas maravilhas. Em ti quero alegra-me e exultar, e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo. Salmo 9:1-2

O livro dos Salmos, também conhecido como Saltério, é o ápice da poesia hebraica. Uma coleção inspirada e edificante de cânticos, os salmos expressam os mais diversos sentimentos e lutas dos crentes e foram produzidos no período que vai da Monarquia Unida de Israel (10o século a.C.) aos tempos posteriores ao exílio na Babilônia (5o século a.C.). O Saltério abrange uma grande variedade de gêneros textuais: cânticos de ação de graças, louvores, confissões de pecados, orações pedindo livramento ou proteção, imprecações, meditações sobre as obras do Criador e assim por diante.

Um hinário eclesiástico bem organizado: O Saltério é uma coleção de cânticos que foram reunidos e editados durante o 5o século a.C. Esse trabalho de organização provavelmente foi realizado por Esdras e seus colegas escribas. O livro de Salmos está dividido em 5 seções ou livros menores, o que mostra a intenção dos e editores de organizar os cânticos de forma temática, tanto em aspectos cronológicos quanto históricos (veja o quadro abaixo):

LIVROCAPÍTULOS / SALMOSTEMACONTEÚDO
11-41Conflito entre Davi e SaulLamentos pessoais: a maioria dos salmos dessa seção menciona adversários do salmista, designados como “meus inimigos”. Salmos notáveis nessa coleção incluem: 1, 2, 24
242-72Reinado de DaviAssim como na primeira seção, é feita menção aos inimigos em muitos dos salmos dessa seção. Salmos notáveis: 45, 48, 51, 54-64
373-89Crise assíria durante o 8o. séculoColeções de descendentes de Asafe e de Corá. Salmo notável: 78
490-106Avaliação teológica após a destruição de Jerusalém, em 586 a.C.Coleção de salmos de louvor: 95-100. Salmos chave: 90, 103-105
5107-150Louvor e reflexão após o exílio: uma nova eraColeção de Aleluia:111-117; cânticos de peregrinação: 120-134. Salmos-chave: 107, 110, 119

O Senhor se alegra quando planejamos as atividades e os recursos usados na adoração ao Seu nome. Devemos nos esforçar para oferecer a Ele somente o nosso melhor. Esse princípio é válido não apenas na execução de nosso culto de adoração, mas também em seu planejamento e organização. Apesar de ideias modernas e tendências populares que defendem um estilo de adoração mais livre, o Livro dos Salmos mostra que nossa adoração a Deus deve ser regida por organização e ordem.

Ao mesmo tempo, ordem e organização não impedem a variedade, e devemos incorporar ambos os elementos no culto de adoração. Para nos ajudar nesse esforço, vamos analisar a maneira como os salmos estão distribuÍdos, conforme resumido anteriormente. Começaremos observando que cada uma das cinco seções do Saltério termina com um salmo doxológico, isto é, uma expressão litúrgica de louvor (Salmo 41, 72, 89, 106 e 150).

O Salmo 1 concentra-se no tema da Torá (a revelação de Deus dada no Sinai), e o Salmo 2, no reinado do Messias – ambos temas centrais do Saltério. Alguns estudiosos da Bíblia consideram que esses dois salmos constituem a introdução do livro.

Observamos também que certos salmos-chave (Salmo 2, 72 e 89) estão situados em posições bem específicas e destacadas dentro do livro. Muitos teólogos consideram o Salmo 89 o centro de todo o Saltério, pois se concentra na transferência da esperança de Israel para o Senhor após o fracasso da monarquia dos descendentes de Davi.

A última seção do Saltério, composta pelos últimos cinco salmos, está centrada no louvor. Esses cinco salmos iniciam com a expressão “Aleluia!” ou “Louvado seja o Senhor!” (NVT) no cabeçalho e no final do texto. Esses salmos finais estão repletos de expressões de louvor carregadas de emoção, que incluem: glorificar a Deus como ato de adoração (Salmo 146:1, 2: 147:12; 148:1-5, 7, 13, 14; 149:3, 6: 150:1-6); cantar ao Senhor (Sl 147:7; 149:1); ser “bem-aventurado” ou “feliz” (NVI) no Senhor (Sl 146:5); alegrar-se no Rei de Sião (Sl 149:2); e exultar “nessa glória” (Sl 149:5, NVI).

Que privilégio temos de organizar os cânticos para louvar a Deus! Nosso arranjo de cânticos deve manifestar intenção de adorar o Senhor e exaltar Sua graça.

Um saltério belamente elaborado

Um estudo de cada salmo revela sua beleza singular. Os salmistas usaram técnicas literárias para criar sua poesia sublime. Entre as expressões que empregam estão figuras de linguagem como símile e antropomorfismo. Símile é uma expressão na qual duas coisas diferentes são comparadas de maneira explícita, muitas vezes introduzidas pela palavra “como” (Sl.1:3). Antropomortismo é o ato de atribuir forma ou características humanas a um ser ou coisa não humana, especialmente a Deus (Sl 18:8-10).

Os salmistas também usaram expressões ou recursos literários que envolviam substituição, no lugar de outro ao qual está relacionado (Sl 2:5); sinédoque, uma figura de linguagem em que a parte substitui o todo ou o todo substitui a parte (Sl.44:6); e imprecação (Sl 109:7); que constitui maldição pronunciada contra os inimigos. Os salmistas usaram também o acróstico (Sl.119), uma forma de poesia em que as primeiras letras de cada linha, quando tomadas em ordem, formam uma palavra ou frase. Também encontramos o uso de anáfora, isto é, a repetição de uma palavra ou palavras no início de dois ou mais versos em um poema ou cântico (Sl 136). Além disso, observamos figuras que envolvem omissão ou supressão, como elipse, um salto repentino de uma assunto para outro (Sl 21:12); aposiopese, uma interrupção repentina no meio de uma frase, como se fosse por incapacidade ou falta de vontade de prosseguir (Sl 6:3); e erotese, o uso de uma pergunta retórica, que é empregada apenas para produzir um efeito ou fazer uma afirmação ou negação e não se destina a obter uma resposta (Sl 106:2). Todas esses figuras de linguagem e vários outros recursos literários aplicados pelos escritores do Saltério demonstram sofisticação literária e habilidade incomparável. Dragoslava Santrac, LES, 2024, 1o.Trimestre, p.14-16 Leia a continuação em Como Ler Salmos (2)

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