Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! Isaías 14:12
Era uma vez uma vila perdida num continente. Isolado de todos, o povo não sabia o que existia e ocorria em outras partes do mundo. De vez em quando, ouviam-se rumores de acontecimentos em outras terras, mas ninguém podia comprovar se o boato era verdade.
As coisas corriam bem. Os camponeses lavravam a terra, cultivavam tomates, plantavam vinhas, tosquiavam ovelhas, tiravam leite, faziam queijos e até fabricavam ótimos chocolates. A vida passava devagar, e todos viviam em paz. Os jovens gostavam de ser responsáveis, e os anciãos apreciavam ser respeitados. Porém, um dia as coisas mudaram. Homens uniformizados apareceram. Passaram pelos campos como gafanhotos. Plantações foram destruídas; moças, violentadas; crianças, mortas por estilhaços. Jovens partiram, mulheres ficaram viúvas.
Enquanto a guerra avançava, alguns diziam que o conflito era local, outros especulavam sobre sua abrangência, mas ninguém conhecia ao certo os mistérios de sua origem. Então viajantes revelaram que o conflito não havia começado ali. Era muito mais amplo do que parecia. As batalhas locais eram parte de uma guerra global. Povos haviam sido envolvidos sem querer, inúmeras pessoas inocentes tinham morrido sem saber o motivo e milhares ainda iriam morrer.
A rebelião de um súdito, que acusara o Rei de ser ditador, jogara o mundo inteiro no conflito. Um poeta escrevera: “Como você encheu o mundo de violência, ó príncipe amado! Você foi feito para ficar junto ao trono. Era o modelo de perfeição. Como deixou o desejo de grandeza dominar seu coração? Olhe de onde você caiu!”
Os moradores da vila nunca entenderam, em detalhes, as causas e implicações da guerra, mas o que sabiam era suficiente para ter ideia da natureza do conflito e decidir que lado apoiar. Os mais espertos perceberam que, assim como o início da guerra havia sido longe dali, o fim também dependia de decisões e ações de fora. Imagem e reputação, propaganda e contrapropaganda, espionagem e relatos dos campos de batalha, tudo isso fazia parte do cenário bélico.
Então um dia, depois de muita destruição, o arauto tocou a trombeta e anunciou que a guerra havia acabado. Os namorados se beijaram, os velhos sorriram, os heróis voltaram para casa, a vila festejou. Por fim, aqueles que haviam lutado bravamente em nome do Rei receberam honrarias no grande palácio, na capital do reino.
Assim começara e assim terminara a melhor e a pior história de guerra de todos os tempos.